Fica claro que o pecado é altamente destrutivo na medida em que se configura como ofensa contra Deus e gera repulsa ao Bem.
Nesse sentido, o Bem se traduz na relação com o outro; a verdadeira razão existencial se mostra no outro, e é exatamente por isso que propicia real crescimento. O desejo bom de realizar-se se dinamiza nessa relação de amar e ser amado, o que se contrasta com a realidade do pecado, que prima pela auto-suficiência e amor a si em detrimento ao outro, nesse sentido, o pecado minimiza o homem e sua vocação, pois o resume à mediocridade do mundo, das coisas e de si.
O homem que emerge na auto-suficiência, na violência, na concreta ruptura com o outro e com Deus, produz em seu ambiente profunda destruição. Como já vimos, o homem não vive só, tem necessidade do outro. Quando ama gera vida, quando peca destrói, mata! Por isso, o pecado pessoal, seja ele privado ou público, tem seu efeito social, pois introduz na coletividade um valor de morte.
Na perspectiva do pecado coletivo, social, observamos ainda as chamadas "estruturas do pecado", ou seja, o pecado que se aloja, se fundamenta e se legitima, frente a uma moral distorcida que vê no acúmulo e no bem estar próprio os únicos valores. Por esse modo de operação vê-se a pobreza e miséria referendada na lei do mais forte.
Surge agora como novo dado da reflexão, a questão das circunstâncias e o grau de consciência na prática do pecado, como atenuantes de gravidade e responsabilidade. Assim, a consciência e o conhecimento, ainda que confuso, da malícia do ato praticado é que determina a existência ou não do pecado. O problema é determinarmos uma consciência inteiramente livre, que permita que o indivíduo livremente peque. Como determinar a liberdade e consciência livre frente a tantos apelos ideológicos e condicionamentos de toda ordem? Assim, devemos considerar que por trás de cada ato, existem situações e circunstâncias, a configuração da psique de sujeito, traumas, alterações psicológicas, pressões, influências, afetividade etc. Tudo isso nos reporta à importante realidade de graus de consciência, e não à simples graus de gravidade do pecado (pecado venial ou mortal).
Ainda nessa esteira, outro aspecto de suma importância, é a questão do querer; pois ele se mostra nos atos bons e maus. Os atos praticados a partir desse querer é que dão forma ao sujeito; suas opções se pautam por sua decisão, que propiciará sempre um ato de liberdade para o bem ou para o mal; ou seja, sua opção fundamental é que o definirá aberto ou fechado ao Absoluto. Assim, não mais os atos particulares definirão o sujeito, mas em seu conjunto, todos os atos que foram caracterizando sua opção por Deus ou não. Entretanto, essa opção fundamental não é feita num dado momento histórico como a “grande decisão da vida”, mas ao contrário, ela vai-se moldando, através das escolhas particulares que o sujeito realiza no seu cotidiano. Nesse sentido a opção fundamental se encarna numa escolha particular que se realiza no dia-a-dia.
Assim, entendemos melhor o pecado mortal; que se mostra no exercício da liberdade, onde o sujeito faz uma opção fundamental contra Deus; e o pecado venial que se apresenta por atos particulares maus que são cometidos para a satisfação de um desejo egoísta, que não comprometem a opção fundamental por Deus e pelo Bem.
Nesses termos se desconsiderarmos a opção fundamental, daremos ao pecado uma visão legalista, por outro lado, corremos o risco de desculpar com uma opção fundamental boa, os maiores egoísmos; assim para resolver tal impasse, devemos manter nossos olhos atentos ao fato de que a opção fundamental se mostra pelo conjunto de atos particulares, assim, mesmo uma vida aberta a Deus, está sujeita a egoísmos, contudo sua opção fundamental é que determinará sua opção por Deus. Dessa forma, a opção fundamental boa, subjulgará o ato particular contrário a si, e impulsionará o sujeito para Deus.
Nessa descoberta do Pecado e sua gravidade, bem como o comprometimento que ele gera em relação à busca do Bem, surge-nos dois sentimentos, “duas tristezas". Uma boa, que nos leva a repensar, a reconsiderar, a tomar um novo rumo, a converter-nos. A outra é ruim, pois nos remete para dentro de nós, numa tentativa inútil de voltar o tempo, e de não assumir como falta, e limitação pessoal o próprio erro. Surge o sentimento de auto-suficiência, que torpemente insiste em resolver por si, sem ajuda, aquilo que já é fato, o pecado.
Em toda essa discussão sobre o pecado, vai ficando bem claro que esse assunto não é algo antiquado, fora de moda, mais ao contrário, atual e exige de nós uma resposta concreta a realidade cotidiana do homem e do mundo. Hoje, fica-nos evidente também que novas formulações e considerações surgem sobre esse concreto tema; porém, a Misericórdia e o perene perdão de Deus, são imutáveis. Deus sempre nos perdoa e ama incondicionalmente. Sucumbe então o remorso, e emerge tomado pela mão de Deus, o arrependimento, que salutarmente nos remete à consciência, e produz em nós o conhecimento de nossa finitude, e debilidade. Daí o nosso desejo de saciar-nos em Deus, o Sumo Bem. Somos, pela experiência do pecado, apresentados a concreta realidade da pequenez humana e da grandeza do amor e perdão de Deus.
Para aprofundar-se:
GAUDETTE, Pierre. “O Pecado" - Ed. Ave Maria, São Paulo, 1997.
Nesse sentido, o Bem se traduz na relação com o outro; a verdadeira razão existencial se mostra no outro, e é exatamente por isso que propicia real crescimento. O desejo bom de realizar-se se dinamiza nessa relação de amar e ser amado, o que se contrasta com a realidade do pecado, que prima pela auto-suficiência e amor a si em detrimento ao outro, nesse sentido, o pecado minimiza o homem e sua vocação, pois o resume à mediocridade do mundo, das coisas e de si.
O homem que emerge na auto-suficiência, na violência, na concreta ruptura com o outro e com Deus, produz em seu ambiente profunda destruição. Como já vimos, o homem não vive só, tem necessidade do outro. Quando ama gera vida, quando peca destrói, mata! Por isso, o pecado pessoal, seja ele privado ou público, tem seu efeito social, pois introduz na coletividade um valor de morte.
Na perspectiva do pecado coletivo, social, observamos ainda as chamadas "estruturas do pecado", ou seja, o pecado que se aloja, se fundamenta e se legitima, frente a uma moral distorcida que vê no acúmulo e no bem estar próprio os únicos valores. Por esse modo de operação vê-se a pobreza e miséria referendada na lei do mais forte.
Surge agora como novo dado da reflexão, a questão das circunstâncias e o grau de consciência na prática do pecado, como atenuantes de gravidade e responsabilidade. Assim, a consciência e o conhecimento, ainda que confuso, da malícia do ato praticado é que determina a existência ou não do pecado. O problema é determinarmos uma consciência inteiramente livre, que permita que o indivíduo livremente peque. Como determinar a liberdade e consciência livre frente a tantos apelos ideológicos e condicionamentos de toda ordem? Assim, devemos considerar que por trás de cada ato, existem situações e circunstâncias, a configuração da psique de sujeito, traumas, alterações psicológicas, pressões, influências, afetividade etc. Tudo isso nos reporta à importante realidade de graus de consciência, e não à simples graus de gravidade do pecado (pecado venial ou mortal).
Ainda nessa esteira, outro aspecto de suma importância, é a questão do querer; pois ele se mostra nos atos bons e maus. Os atos praticados a partir desse querer é que dão forma ao sujeito; suas opções se pautam por sua decisão, que propiciará sempre um ato de liberdade para o bem ou para o mal; ou seja, sua opção fundamental é que o definirá aberto ou fechado ao Absoluto. Assim, não mais os atos particulares definirão o sujeito, mas em seu conjunto, todos os atos que foram caracterizando sua opção por Deus ou não. Entretanto, essa opção fundamental não é feita num dado momento histórico como a “grande decisão da vida”, mas ao contrário, ela vai-se moldando, através das escolhas particulares que o sujeito realiza no seu cotidiano. Nesse sentido a opção fundamental se encarna numa escolha particular que se realiza no dia-a-dia.
Assim, entendemos melhor o pecado mortal; que se mostra no exercício da liberdade, onde o sujeito faz uma opção fundamental contra Deus; e o pecado venial que se apresenta por atos particulares maus que são cometidos para a satisfação de um desejo egoísta, que não comprometem a opção fundamental por Deus e pelo Bem.
Nesses termos se desconsiderarmos a opção fundamental, daremos ao pecado uma visão legalista, por outro lado, corremos o risco de desculpar com uma opção fundamental boa, os maiores egoísmos; assim para resolver tal impasse, devemos manter nossos olhos atentos ao fato de que a opção fundamental se mostra pelo conjunto de atos particulares, assim, mesmo uma vida aberta a Deus, está sujeita a egoísmos, contudo sua opção fundamental é que determinará sua opção por Deus. Dessa forma, a opção fundamental boa, subjulgará o ato particular contrário a si, e impulsionará o sujeito para Deus.
Nessa descoberta do Pecado e sua gravidade, bem como o comprometimento que ele gera em relação à busca do Bem, surge-nos dois sentimentos, “duas tristezas". Uma boa, que nos leva a repensar, a reconsiderar, a tomar um novo rumo, a converter-nos. A outra é ruim, pois nos remete para dentro de nós, numa tentativa inútil de voltar o tempo, e de não assumir como falta, e limitação pessoal o próprio erro. Surge o sentimento de auto-suficiência, que torpemente insiste em resolver por si, sem ajuda, aquilo que já é fato, o pecado.
Em toda essa discussão sobre o pecado, vai ficando bem claro que esse assunto não é algo antiquado, fora de moda, mais ao contrário, atual e exige de nós uma resposta concreta a realidade cotidiana do homem e do mundo. Hoje, fica-nos evidente também que novas formulações e considerações surgem sobre esse concreto tema; porém, a Misericórdia e o perene perdão de Deus, são imutáveis. Deus sempre nos perdoa e ama incondicionalmente. Sucumbe então o remorso, e emerge tomado pela mão de Deus, o arrependimento, que salutarmente nos remete à consciência, e produz em nós o conhecimento de nossa finitude, e debilidade. Daí o nosso desejo de saciar-nos em Deus, o Sumo Bem. Somos, pela experiência do pecado, apresentados a concreta realidade da pequenez humana e da grandeza do amor e perdão de Deus.
Para aprofundar-se:
GAUDETTE, Pierre. “O Pecado" - Ed. Ave Maria, São Paulo, 1997.